segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Valorização altera perfil de violência no bairro do Cabula: menos morte, mais roubo

O Cabula saiu nos últimos anos da posição de popular para emergente, com a chegada de empreendimentos de classe média 
Um dos poucos bairros de Salvador que ainda mantém algumas chácaras é hoje um dos mais cobiçados pelas construtoras. O Cabula saiu nos últimos anos da posição de popular para emergente, com a chegada de empreendimentos de classe média. E a mudança de status trouxe alteração no perfil da violência. O foco deixou de ser os crimes contra a vida e passou a ser os crimes contra o patrimônio.
Enquanto no ano passado o Cabula era apenas o 9º bairro no ranking de roubo de veículos, hoje o bairro pulou para o 2º lugar da lista, atrás somente de Brotas. De janeiro a 15 agosto deste ano foram roubados 143 carros, segundo dados divulgados no site da Secretaria de Segurança Pública (SSP). Em 15 dias deste mês, o bairro registrou o mesmo número de roubos (13) que o líder, Brotas.
Por outro lado, o Cabula tem hoje um dos menores índices de homicídios de Salvador. Em maio deste ano, o CORREIO publicou um mapa da concentração de homicídios na capital e não havia um registro sequer no Cabula. De lá para cá, foram duas mortes violentas. Ainda assim, há uma redução no número de pessoas mortas no bairro: entre janeiro e agosto de 2011, foram sete execuções.
Valorização
Com a chegada de empreendimentos como o condomínio Horto Bela Vista e do Shopping Bela Vista, o Cabula valorizou em mais de 70% no m². Segundo a Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (Ademi-BA), o m² no bairro subiu de R$ 2.600 para valores entre R$ 3.800 e R$ 4.600. De maio de 2007 até agosto de 2011 foram lançados 2.894 apartamentos no bairro.
“Onde antes só havia uma população de baixa renda, houve uma melhora do poder aquisitivo. Lógico que isso atrai essas questões de roubo, como na Pituba, região de maior poder aquisitivo e com elevado número de roubos”, analisa Noel Silva, diretor do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci-BA).
Para a polícia também há uma explicação estratégica. “Nós apertamos o cerco na Pituba, Boca do Rio, Imbuí, Brotas, regiões responsáveis por 50% das ocorrências de roubos de veículos”, explica o delegado Nilton Borba, da Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos de Veículos (DRFRV).

Na pele

Quem mora há tempos no bairro sente a mudança na pele. A mulher do representante comercial Adselmo Vilas Boas, 40 anos, teve o carro roubado na terça-feira da semana passada, depois de parar numa padaria, em frente ao Hiper Bompreço.

“Ela foi comprar pão. Na volta, entrou no carro, um Palio, mas nem chegou a dar a partida. Dois homens se aproximaram e um deles, armado, obrigou ela sair do carro”, conta Adselmo, que mora há dez anos no bairro. “De um tempo para cá, o Cabula tem tido muito roubo de carro. Não havia tantos casos até a chegada destes arranha-céus. Você nota pelo engarrafamento”.
Francisca Laécio de Assis, 45, que há 15 anos reside na Avenida Boa Esperança, presenciou um roubo há pouco dias. “Tudo aconteceu em fração de segundos. Um rapaz saiu do carro e foi na sapataria. Quando voltou, o veículo não estava mais no lugar”, diz.
Uma vizinha de Francisca, de 53 anos, que não quis se identificar, vê os dois lados da moeda: “Graças a Deus, nunca mais ninguém morreu por aqui, mas tem muito roubo de carro e de estabelecimento comerciais que a gente tem conhecimento”, declara.
A operadora de caixa Edinéia Dantas dos Santos mora na Rua da Adutora, próxima ao 19º Batalhão do Exército, e comenta que as conversas entre vizinhos mudaram de foco.
“Já tem um tempo que a gente não vê falar de mortes aqui. Agora tem muita gente reclamando de roubo de carro. Trabalho num mercadinho no Planalto e todo dia é alguém dizendo que o carro foi roubado”, conta. Moradora da mesma rua, a diarista Ivonete de Assis confirma. “Aqui tem mais é ‘sacizeiro’ agindo”.
A delegada Francineide Moura, coordenadora do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) destaca também o trabalho na polícia na redução dos homicídios. “Intensificamos as operações no Cabula e Tancredo Neves, cumprindo vários mandados de prisão, retirando de circulação homicidas”.
Já a PM informou que a corporação “vem desempenhando um conjunto de ações, como abordagens em veículos na Operação Musuá”, mas não informou o efetivo destinado ao Cabula.
Funcionários de shopping com medo
Trabalhadores do Shopping Bela Vista reclamam de falta de segurança na região. Segundo representantes do Sindicato dos Comerciários, os trabalhadores dizem que estão sofrendo com constantes assaltos, além das ameaças de estupros.
Na última quinta-feira, eles realizaram uma manifestação em frente ao centro comercial. “O shopping foi inaugurado dia 13 de julho, mas até o momento não foram criados pontos de ônibus e linhas de transporte público para atender as demandas”, declara o presidente do sindicato, Joelson Dourado.
Segundo ele, a direção do shopping prometeu fazer uma reunião no intuito de solucionar o problema”. Procurada, a Polícia Militar não informou o efetivo que faz o policiamento no Cabula.
Apartamentos de até R$ 1,5 milhão
Empreendimentos como o Horto Bela Vista e o Maximo Club Residence, além do shopping Bela Vista, são alguns dos responsáveis pela valorização da região. Um apartamento custa de R$ 500 mil R$ 1,5 milhão nos novos empreendimentos, segundo dados da Ademi-BA. De dois anos para cá, houve uma valorização de 70% no m².
“O Cabula é um bairro alto, arborizado, mas faltava um pouco mais de infraestrutura por lá. Com a chegada do Horto Bela Vista houve melhorias nas vias de acesso”, explica Nilson Sarti, presidente da Ademi-BA. “É preciso um policiamento mais efetivo. O Cabula agora é outro. Está mais desenvolvido. Bancos e lojas, que antes quase não existiam, agora se fazem presentes no local”, explica.
De acordo com Noel Silva, diretor do Creci-BA, inicialmente o Cabula tinha outra proposta urbanística. “Antigamente, não se tinha prédios residenciais com elevadores, com piscina. Tudo isso mudou. Melhorou o perfil do bairro”, pontua.

Alimentado por: Gabriela Pereira.

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