Por Marcos de Moura e Souza | De Belo Horizonte
Um
empresário mineiro planeja erguer no morro do Alemão, no Rio, o
primeiro shopping center do país dentro de uma favela. Elias Tergilene,
de 41 anos, já é dono da rede de shoppings populares Uai que tem cinco
unidades, em Belo Horizonte e em Manaus. O projeto no Rio foi
apresentado ao governo do Estado do Rio de Janeiro e já atrai o
interesse de marcas como Chilli Beans, Camisaria Colombo, Barred's e
Burger King, segundo o empresário. O morro do Alemão foi um dos que
receberam Unidades de Polícia Pacificadoras (UPP).
O
Favela Shopping ou Shopping Favela (a ordem ainda não foi definida)
estreia no Rio, pelos planos de Tergilene, mas São Paulo e Belo
Horizonte também estão na sua mira. Na segunda-feira, ele esteve em
Paraisópolis - grande favela da capital paulista - para ver um imóvel
onde poderá ser construído um shopping. Ele fala em trazer o conceito
para a favela (ou aglomerado, como dizem os mineiros) da Serra, em Belo
Horizonte. E busca investidores e parceiros para futuros projetos.
O
investimento previsto para o shopping do Rio é de R$ 22 milhões, em
recursos próprios, segundo ele. O imóvel em vista é um galpão mal
conservado de 15 mil metros quadrados localizado em uma das entradas do
Complexo do Alemão. O problema é que o imóvel tem uma lista longa de
impostos não pagos e está ocupado atualmente por estacionamento
irregular, diz o empresário.
O
assunto que está sendo discutido com o governo do Estado. "Já tivemos
reuniões com o vice-governador, o Pezão, e com a equipe dele e estamos
agora na fase de formatar o projeto e definir se o shopping será uma PPP
[parceria público-privada], se será todo nosso, se o governo
desapropria e cede o prédio", disse Tergilene, em seu escritório no
Shopping Uai, no centro de Belo Horizonte (BH).
A
reforma proposta por Tergilene daria ao imóvel uma fachada de tijolo
aparente que lembra uma antiga fábrica. Seria equipado com palco para
shows, quatro salas de cinema, palmeiras na calçada e uma área de
circulação e para estacionamento de aproximadamente 23 mil metros
quadrados. As lojas serão pequenas: de 20 a 30 metros quadrados. O
projeto é assinado pelos arquitetos da Painel Arquitetos Associados, de
BH. E se a opção for mesmo pelo galpão, as obras levariam mais ou menos
um ano para serem concluídas.
A
ideia é que o Favela Shopping não seja apenas uma opção de compras mais
acessível para quem vive nas favelas do Alemão. "Não estamos montando
um shopping para tirar dinheiro da favela, mas para criar cultura
empresarial na favela", diz Tergilene. O que ele pretende é que as
empresas que se estabelecerem no shopping, contratem funcionários no
Alemão e privilegiem moradores da região para tocar franquias das marcas
instaladas no centro de compras.
Dinheiro
e consumo há nas favelas do Complexo do Alemão, assim como em diversas
favelas pelo país, diz Tergilene. "Todas as empresas com quem eu falo
sobre o shopping na favela me perguntam: 'Começa quando?'" Muitas
empresas, diz ele, sonham há tempos em entrar nas favelas, mas não sabem
como.
O
Favela Shopping tem uma vantagem, diz o empresário. Nasce com o apoio
da Central Única de Favelas (Cufa), uma ONG criada em 1999 por Celso
Athayde nos morros do Rio e que tem liderado ações e campanhas nas áreas
de educação, esporte, cultura e cidadania e hoje se espalha por favelas
de 25 Estados mais o Distrito Federal. No ano passado, a organização
criou a Liga dos Empreendedores Comunitários (LEC), cujo objetivo é
qualificar e estimular oportunidades de negócios para moradores das
favelas.
Tergilene
afirma que está à frente da LEC com Athayde e diz que a experiência da
Cufa nas favelas será chave para ajudar no sucesso do shopping.
Para
Luiz Fernando Veiga, presidente da Associação Brasileira de Shopping
Centers (Abrasce), a aposta de Tergilene faz todo sentido. "O
empreendedor de shoppings quer mercados com poder aquisitivo e carência
de oportunidade de consumir. E as favelas do Rio, uma vez pacificadas,
viraram bairros consumidores como outros quaisquer."
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Comentário por Gabriela Pereira: Inicialmente parece ser uma idéia muito boa e que terá grande aceitação pelos moradores da respectiva localidade e adjacências. Consigo ver com bons olhos a iniciativa, mas não vislumbro a possibilidade de que hajam frequentadores de outros bairros mais elitizados da cidade com muita frequência, talvez por puro preconceito ou por uma questão de deslocamente desnecessário. O que não representaria um problema, em razão das favelas serem muito populosas e conforme diversos estudos, têm crescido significativamente o poder de compra das classes D e E .
Ademais, vejo como ponto possitivo a possibilidade dos próprios moradores serem contratados para trabalhar no shopping, o que aumentaria a renda para a região e os moradores-consumidores não necessitariam se deslocar para localidades diversas quando precisassem/quisessem consumir.